Podemos entender que a visão do capítulo 17 aponta para o meio dos 7 anos com o primeiro ataque do Anticristo a Jerusalém e possíveis outras cidades no mundo que representam essa sistema corrupto de relacionamento com Deus. Agora temos no capitulo 18 o anúncio da destruição final, se por um lado no capitulo anterior a ira para destruição da “Babilônia” vinha do Anticristo, do Falso Profeta e dos 10 Chifres, agora nesse capitulo o julgamento final vem do próprio Deus ou em uma descrição mais direta o retorno de Jesus Cristo a terra.
Esse capítulo traz uma linguagem econômica da Babilônia, porém não podemos relacionar isso diretamente com Nova Iorque e/ou Londres com suas Bolsas de Valores negociando trilhões todos os dias. O contexto econômico da visão esta intrinsecamente conectado com a religião, ou seja, o uso da religião para manipular e controlar o mundo e seus recursos. O capítulo como um todo consiste em uma serie de vozes celebrando ou lamentando o resultado da devastação da cidade ou cidades, pois isso inclui Jerusalém mas também todas as cidades do mundo que são promiscuas em seu relacionamendo regligioso com Deus.
A visão trás mais informações daquilo que Deus já havia anunciado em Ap. 14:8 e Ap. 16:19-21. O entendimento que a salvação é através de obras é a pedra de sustento para o conceito religioso babilônico. O desejo de glorificar a si mesmo e suas conquistas, mais do que a Deus que criou todas as coisas é a base para entendermos esse comercio descrito por João. Esse foi o fundamento da Torre de Babel em Gen 11:4, construir um nome para nós mesmos.
Entender que Deus está destruindo mais do que uma cidade literal, seja Jerusalém, Roma, Nova Iorque ou qualquer outra cidade ocidental, mas uma estrutura religiosa que tem sua essência satânica que tem sido promovida ao longo da historia onde o centro é o homem e as suas necessidades.
Aqui temos João tendo uma visão de um Anjo que possivelmente seja a descrição de Jesus. Se assim for, ele está descrevendo o momento do retorno de Jesus Cristo, também chamado pelos profetas como o Dia do Senhor
1. A Queda Anunciada de Babilônia (Apocalipse 18:1-3)
Um anjo proclama a queda de Babilônia, descrevendo-a como um lugar de corrupção espiritual, habitada por demônios, onde as nações se embriagaram com sua imoralidade e os mercadores enriqueceram com seu luxo. Jerusalém, como centro espiritual que se desviou, e o sistema religioso cristão global, que se prostituiu com o poder e a riqueza do mundo, são julgados por Deus. A “embriaguez das nações” reflete a influência corruptora desse sistema. A um grande desafio interpretativo olhar para uma cidade deveria habitar a presença de Deus e o texto declara “morada de demônios”. Talvez um entendimento para isso podemos tirar de Eze 8 quando Ezequiel é levado em espírito ao Templo em Jerusalém para ver toda a adoração a outros deuses (demônios) e que a presença de Deus havia deixado o templo. Também baseado em Daniel 11:45, pode ser que o Anticristo faça de Jerusalém ou área próxima sua habitação a partir dos últimos 3,5 anos.
Isaías 1:21: “Como se tornou prostituta a cidade fiel! Ela, que estava cheia de justiça e onde habitava a retidão, agora está cheia de assassinos.” Jerusalém, outrora fiel, é acusada de apostasia, um paralelo com a Babilônia de Apocalipse 18.
2. O Chamado para Sair de Babilônia (Apocalipse 18:4-8)
Uma voz do céu ordena que o povo de Deus saía da Babilônia para não participar de seus pecados, pois seus crimes se acumularam até o céu. Ela se gloria em sua arrogância, mas será julgada rapidamente. O pedido do versículo 4 é ainda mais desafiador, pois vem uma ordem de Deus para sair do meio da Babilônia.
João aqui está recitando as palavras de Jer 50:8. Lendo Jeremias podemos entender que o contexto não está diretamente associado a Babilônia dos Caldeus, pois ele mesmo havia declarado ao povo em Jer 29:5 para Israel habitar em paz na Babilônia: Edifiquem casas, plantai e gerai filhos… e procurai a paz da cidade.
Por outro lado, Jesus diz em Mat 24:16 para os judeus deixarem Jerusalém e em Zac 14:5 basicamente no retorno de Jesus é dado voz para fugirem da cidade. Poderia ser esse também um chamado para os cristãos saírem de um sistema religioso corrupto que eleva a exaltação do homem e a busca incessante dos prazeres desse mundo?
O ponto importante a ser entendido que esse comando para sair não é dado ao mundo, ao ímpio ou perdido em seus caminhos. Pelo contrario, o texto diz MEU POVO que somente pode ser compreendido pelos judeus remanescentes que o Senhor decidiu salvar na vida de Cristo ou aos verdadeiros cristãos que foram selados com o Espírito Santo.
Outro ponto muito importante para entender o contexto está na ordem de Deus: pagai-lhe em dobro". Esse é um castigo presente nos profetas para Israel descrito em Isa 40:2 e Jer 16:18; 17:18. Essa foi a promessa de castigo em dobro que Deus derramaria sobre o povo de Israel por sua desobediência a aliança. Ainda mais, o texto de Isaías descreve a vinda do Senhor consolando o seu povo depois do castigo em dobro. Da mesma forma, Deus prometeu a Israel bênção em dobro em Isa 61:7 depois de serem restaurados.
Isaías 47:8-9: “Agora, pois, ouve isto, tu que vives em delícias, que dizes no teu coração: Eu sou, e não há outra além de mim; não ficarei viúva, nem conhecerei a perda de filhos. Mas estas duas coisas te sobrevirão num momento, num só dia.” A arrogância da Babilônia em Apocalipse ecoa a da Babilônia histórica, aqui aplicada a uma Jerusalém que se vê como inabalável. Esse sempre foi o grande conflito do povo judeu a sua autossuficiência, ao confiar que por ser povo escolhido se tornaram arrogantes. Eze 16:15 traz esse repreensão de Deus: você confiou na sua formosura e por isso se entregou a lascívia.
Isa 9:10 declara o desafio arrogante do povo: os tijolos ruíram por terra, mas tornaremos a edificar com pedras lavradas". O povo resistindo a repreensão do Senhor.
Agora a pergunta, a igreja contemporânea como povo escolhido de Deus, tem agido de maneira diferente? O que Jesus diz a igreja de Laodicea:
Apoc 3:17 - pois dizes: estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, porém não sabes que tu és infeliz, miserável, pobre, cego e nu.
Bem como a repreensão que Jesus faz as igrejas de Tiatira e Pergamo pela sua prostituição, que infelizmente muitas vezes é interpretada por pregadores apenas como imoralidade sexual, mas o contexto está alinhado a uma vida relacional com Deus associado com os prazeres desse mundo, o que Paulo chama de idolatria em Col 3:5. Essa realidade permeia as cartas de Paulo sempre exortando que muitos que estavam no meio da igreja “buscam o seu próprio interesse”.
Esse foi o propósito inicial do homem em Babel, “construir um nome para si"e infelizmente continua permeando nossas igrejas e nossos próprios corações, um incansável desejo ao sucesso, auto-exaltação e fazer de mim ou da minha igreja algo grande, mas nos enganamos quando dizemos que fazemos isso por Jesus. Como 1 Pe 4:17 afirma que juízo de Deus começará pela igreja. Deus limpará sua videira.
No fim, ocorre a destruição da estrutura física de Jerusalém alinhado com Os 2:3, Jer 10:25, Isa 47:8, Miq 3:3 entre outros para a reconstrução de uma nova Jerusalém pura no período milenar. Não podemos esquecer dos textos que afirmam a completa mudança geológica acontecendo em Jerusalém na volta e Jesus através de um grande terremoto. Ezequiel 40-48, mostra uma geografia completamente diferente para a cidade dentro do período Milenar do que temos atualmente em Israel.
3. O Lamento dos Reis, Mercadores e Navegadores (Ap. 18:9-19):
Os reis da terra, os mercadores e os que vivem do mar lamentam a destruição da Babilônia, chorando a perda de sua riqueza, luxo e comércio. Talvez esse seja o ponto mais controverso para definir de Jerusalém com a Babilônia, pela vastidão da natureza do comércio aqui descrito e sua influência sobre a economia do mundo.
Importante entender o contexto que João está fazendo sobre esse comércio, para não cairmos no erro de tentar identificar dentro dos dias de hoje, pois nenhum pais/cidade se qualificaria a esse nível de comércio mundial.
Porém claramente ele está usando os oráculos de Ezequiel 26 e 27 que tratam do comércio de Tiro. O lamento sobre a queda de Tiro e a descrição do seu comércio com certeza foram inspirações proféticas de João.
Agora, a chave para entender esse oráculo está em Ezequiel 28, onde o profeta faz desse lamento da terra diante da queda de Satanás e seu comércio que fazia com a terra. Assim, a descrição do comércio de Apocalipse 18 não está associado a bens físicos e commodities, mas o que está sendo “traficado” é uma mercadoria espiritual.
O termo grego usado em Ap. 18 somente aparece no Novo Testamento na Parabola da Pérola, onde Jesus explica que alguém está fazendo comércio de tudo que tem pela entrada no reino dos céus. Logicamente, Jesus não está referindo a uso de dinheiro mas o fato de negar-se a realidade desse mundo por algo superior, a vida eterna. Jesus usa esse mesmo entendimento sobre comprar em João 6:44 e em Ap. 3:18 quando aconselha a igreja de Laodicéia a comprar ouro refinado pelo fogo. Mesma mensagem de Isa 55:1 compre coisas espirituais, sem dinheiro, mas com a renúncia do seu coração.
O que está se negociando é algo muito maior do que bens físicos e materiais, mas a troca de algo eterno por algo momentâneo e prazeroso desse mundo. Essa foi a decisão de Esaú descrita em Hebreus 12:16, que troca a promessa futura por um prazer imediato.
Essa foi a oferta de Satanás na tentação a Jesus, não há necessidade de passar por tribulações e provas nesse mundo por uma promessa futura, mas aproveite e viva intensamente agora.
Assim concluímos, que o julgamento derramado aqui é sobre uma idolatria que negocia sua adoração em busca do materialismo desse mundo. Essa era a essência que permeava a busca de Israel da antiguidade em adorar deuses das nações vizinhas mais prósperas e ricas que Israel. Entretanto, essa idolatria hoje permeia nas igrejas cristãs que buscam incessantemente um “comércio” de troca com Deus para buscar sucesso e prosperidade dizendo que estão fazendo isso em nome de Deus.
Jerusalém e essa estrutura religiosa espalhada sobre a terra serão julgadas pela sua infidelidade com Deus pois sua adoração idolatra é baseada em um comércio mundano. Como Jesus disse: vocês transformaram a Casa de meu Pai em um covil de ladrões.
Ezequiel 27:29-36: No lamento pela queda de Tiro, os marinheiros e mercadores choram: “Quem jamais se igualou a Tiro? […] Os reis da terra se enriqueceram com a abundância do teu comércio.” A descrição do colapso econômico de Tiro é um paralelo direto ao lamento por Babilônia, sugerindo que Jerusalém, como centro de adoração idólatra, bem como grandes segmentos dentro da igreja cristã tem negociado sua adoração.
Obs: Para um maior entendimento sobre o comércio espiritual de Apocalipse 18 recomendamos a leitura da tese de Iain Provan.
Iain Provan, “Foul Spirits, Fornication and Finance: Revelation 18 From an Old Testament
4. A Destruição Final e o Júbilo Celestial (Apocalipse 18:20-24)
Talvez um dos pontos mais claros para conectar a Babilônia com a cidade de Jerusalém está na descrição profética de Jesus dela ter derramado o sangue dos profetas e dos escolhidos de Deus descrito em Mateus 23:34 à 37. Apesar de Roma ter perseguido cristãos e atualmente muçulmanos radicais também o fazem, é impossível associar responsabilidade aos profetas do antigo testamento.
Porém o contexto também responsabiliza o sangue inocente derramado diante da graça esperada de Jerusalém e da igreja quando olhamos a luz da profecia de Ezequiel 3:18. Tanto Israel como a igreja foram chamados para ser luz para as nações e instrumento de cuidado das ovelhas. Infelizmente hoje parte da igreja tem devorado as próprias ovelhas e deixadas abandonadas como o profeta Ezequiel 34 previu esse abandono.
Os céus, os santos e os apóstolos são chamados a se alegrar com a destruição de Babilônia, que é lançada ao mar como uma pedra de moinho. Ela é condenada por enganar as nações e pelo sangue dos profetas e santos.
A queda de Jerusalém e do sistema que se diz cristão, mas é apostáta são definitivas, trazendo justiça aos fiéis perseguidos. O “sangue dos profetas” aponta para a culpa histórica de Jerusalém e sua extensão ao cristianismo corrompido.
Finalmente, a condenação e destruição final apontam para uma Jerusalém imoral e idolatra. Esta não será reconstruida e nunca mais encontrada. Entretanto, com o retorno de Jesus e seu reinado milenar há promessa da construção de uma nova Jerusalém nos padrões estabelecidos por uma nova topografia conforme descrita em Ezequiel 40-48
Assim concluímos, sobre essa perspectiva, Apocalipse 18 retrata Jerusalém como a “Babilônia” contemporânea, um centro espiritual que se corrompeu e deu origem a um sistema religioso cristão global sedento por poder e dinheiro. As conexões com o Antigo Testamento — especialmente Jeremias 51, Isaías 47 e Ezequiel 27 — mostram que esse julgamento segue um padrão divino consistente: cidades ou sistemas que se elevam em arrogância, exploram as nações e traem a aliança com Deus enfrentarão a destruição total. Jerusalém, que deveria ser “cidade de paz” (Salmo 122:6) e luz para as nações, torna-se, nessa leitura, o símbolo máximo dessa apostasia, enquanto a religião cristã em alguns dos seus meios tem compactuado com dois senhores; amplifica sua corrupção pelo mundo, até que ambos sejam julgados por Deus.