Para início do entendimento sobre a Babilônia, os capítulos 17 e 18 são intercalados ou seja eles não avançam em uma ordem cronológica. João irá descrever detalhes suplementares fora de uma ordem de tempo tratando esse tópico do julgamento da Babilônia como um dos principais tópicos de Apocalipse.
A Babilônia representa um sistema de domínio humano sobre a terra. Sua origem pode ser traçada desde Genesis 11 com a construção da torre de Babel, e talvez aqui esteja o ponto mais importante para nosso entendimento, a decisão do homem de buscar salvação pelo seu próprio esforço e construir um legado religioso humano.
Gen 11:4 edifiquemos para nós uma cidade e uma torre que cujo topo chegue até os céus, façamos um nome para nós mesmos.
Ao longo da história várias tentativas têm sido feitas para identificar uma cidade que descreva com exatidão as visões proféticas descritas aqui. Entre as principais sempre estiveram:
Roma: por ser o império dominante na época que Apocalipse foi escrito e como o próprio Pedro se dirigiu a ela em 1 Pe 5:13. Outra perspectiva, por ser a cidade papal em seus conflitos entre a santidade a Deus e a prostituição de suas estruturas com o mundo. Entretanto, isso não seria muito diferente de muitas estruturas evangélicas.
Babilônia Geográfica: alguns estudiosos ao longo da história imaginam a reconstrução da cidade original no atual Iraque sendo um centro de adoração que se oporia a Deus. Durante o governo de Sadam Hussein ouve algumas tentativas de reconstrução como projeto turístico. Atualmente a região é um vasto deserto.
Jerusalém: Alguns importantes intérpretes entendem que João está usando várias simbologias para descrever a cidade de Jerusalém. Algumas importantes profecias do antigo testamento reforçam essa teoria.
Meca: Muito recentemente um autor, Joel Richardson, desenvolveu a teoria da cidade religiosa dos muçulmanos ser a Babilônia de Apocalipse. Porém alguns pontos ainda ficam obscuros quanto a esse entendimento
Nova Iorque/Londres: Outras teorias trazem nomes de cidades economicamente importantes poderiam ser a Babilônia descrita em Apocalipse. Porém eles não carregam o aspecto religioso que claramente descrevem essa cidade.
Um conceito comum é olhar a Babilônia como uma cidade antagônica a cidade de Deus. Agostinho foi um dos primeiros a criar o conceito das duas cidades, Babilônia e Jerusalém sendo duas cidades espirituais que lutam entre si através da história. Sendo que a Babilonia inimiga de Deus estaria sendo representada ao longo dos tempos em vários lugares como a própria Babilônia, mas também o Egito, Nínive, Roma, entre outras. Muitas das teorias de hoje seguem esse conceito. Porém uma pergunta importante que não tem uma resposta simples, é se a Jerusalém física pode ser considerada a cidade espiritual de Deus?
Assim, vamos caminhar pelas revelações dadas por João para entender esse mistério conforme ele mesmo retrata no versículo 5. Vamos defender um ponto muito importante para chegarmos a uma conclusão. João tinha o claro entendimento de qual é essa cidade e por alguma razão evitou citar diretamente mas usou de vários simbolismos alegóricos. Entretanto, ele utilizou essa ferramenta em conexão com as profecias do Antigo Testamento, onde Deus através dos antigos profetas também utilizou as mesmas imagens.
Por isso, toda interpretação da palavra profética do fim dos tempos precisa ser entendida a luz da própria palavra de Deus. Como diz, a bíblia explica a bíblia. Um erro grave é sair do contexto bíblico e olhar para a geopolítica dos dias de hoje para “forçar” um entendimento. Vamos conseguir identificar que João reproduziu oráculos proféticos importantes como Jeremias 50 e 51 que profetiza sobre a Babilônia bem como Ezequiel 23 à 28 que profetiza sobre a destruição de Tiro como cidade econômica.
Antes de cobrirmos os versículos do capítulo 17, podemos afirmar duas coisas com clareza assertivas do contexto:
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Simbolismo: Inquestionavelmente o nome Babilônia é um símbolo usado por João para identificar a característica de uma cidade especifica na terra que age ao longo da história que usufrui da autoridade e poder na terra.
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Religioso: Apesar do contexto geográfico de uma cidade o texto deixa muito claro o fator de um sistema religioso que manipula e negocia sobre o poder na terra. Assim, não podemos definir por poder econômico mas por religiosidade, pois é isso que ela no fim negocia. Entretanto, esse sistema religioso se relaciona com Deus de alguma forma.
O início da descrição diz que ela é uma meretriz, ou seja uma prostituta e mais a frente vai dizer que ela é a** Mãe das Meretrizes** da terra. Apesar, do contexto da linguagem ser de imoralidade sexual, o texto está apontando para uma personificação espiritual de fornicação ou ainda de idolatria espiritual. O fato de estar assentada sobre muitas águas não traz um contexto geográfico como os rios que cercavam a Babilônia ou outras interpretações de ser Roma chamada “cidade das águas”. O próprio texto vai explicar no versículo 15 que essas águas são povos e nações. Assim, essa cultura religiosa promíscua influencia todas as nações da terra.
Vamos então tentar buscar entendimento dos principais símbolos usados por João:
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Muitas Águas: Uma interpretação errônea é olhar uma cidade construída sobre águas ou rios como muitos associam a ser Roma e seus rios ou Nova Iorque banhada pelas muitas águas. Sim, a antiga cidade da Babilônia fluía o rio Eufrates e traz essa figura. Entretanto, o contexto bíblico traz a imagem da influência sobre muitos povos (Isa 17:13). No próprio versículo 15 João explica que essas muitas águas são nações da terra. Em Ezequiel 17 o profeta diz que Jerusalém foi plantada como videira do Senhor sobre muitas águas para influenciar as nações da terra, mas se torna uma má influencia.
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Besta: A figura do Anticristo com suas 7 cabeças (7 impérios que dominaram Israel) e 10 chifres (a liga de 10 nações que darão suporte ao Anticristo)
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Mulher assentada: o sistema babilônico se aproveita dos grandes impérios da terra para se prostituir com eles. Em lugar de manter-se fiéis aos seus valores como uma esposa fiel, ela decide se beneficiar dos seus dominadores. Um contexto histórico lembra a segunda guerra quando a Alemanha invadiu a Franca e mulheres franceses se aproveitaram desse domínio para seu benefício. Quando a Alemanha foi derrotada essas mulheres foram expostas como prostitutas.
Obs.: Importante destacar que o Anticristo a odeia e no final a destruirá conforme versículo 16.
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Vestimenta da mulher: João traz uma descrição em código das vestimentas desse espírito babilônico: púrpura e de escarlata (carmesim), adornada de ouro, de pedras preciosas. Essa era a típica vestimenta do Sumo Sacerdote conforme Exodo 28:15. Alguns tentam associar as vestimentas papais da atualidade.
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Cálice de Ouro: Era objeto usado no processo de libação, ato final do sacrifícios oferecidos ao Senhor, onde usava-se uma mistura de vinho e óleos aromáticos sobre o altar. Subia um cheiro característico como uma oferta final a Deus. Paulo menciona isso em 2 Tim 4:6 Aqui no contexto essa oferta está contaminada com um culto ao Senhor que parece glorioso, mas está contaminado por falta de santidade.
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Nome Escrito: Alguns estudiosos associam as prostitutas da época romana tinham seus nomes escritos como identificação publica. Outra associação é feita ao sumo sacerdote que tinha uma placa de ouro sobre a testa dizendo Santidade ao Senhor. O fato de João chamar de um mistério o nome Babilônia, traz o contexto de algo não revelado diretamente ou seja, está usando um codinome para uma outra cidade. Em 3 diferentes profetas Deus chama Jerusalém de cidade apóstata, Isa 1:10, Jer 23:14 e Eze 16:44.
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Grande Prostituta: Deus relaciona prostituição com aqueles que dizem que adoram a Ele mas também buscam outros “deuses” ou buscam satisfação para sua alma com os prazeres do mundo. Alguém não pode cometer adultério ou prostituição com Deus se não estiver em aliança com Ele. O Livro de Oséias é o tema disso de um relacionamento promíscuo de Israel com Deus e prazeres dos deuses estrangeiros. É digno de nota que Tiro e Nínive – as duas únicas cidades fora de Israel que são acusadas de prostituição estavam ambas em aliança com Deus. Tiro na época de Davi e Salomão foi convertida à adoração do Deus verdadeiro, e seu rei fez uma aliança com Salomão e ajudou na construção do Templo (1 Reis 5:1-12; 9:13; Amós 1:9); Nínive foi convertida sob o ministério de Jonas (Jn 3:5–10).
Ezequiel 18:15 Deus chama Jerusalém de prostituta
Ezequiel 18:32 Deus a chama de adúltera
Ezequiel 18:16 Deus diz que esse tipo de prostituição nunca tinha acontecido
Ezequiel 18:20 Diz que derramou o sangue dos filhos do senhor
Apocalipse 11:8 Chama Jerusalém de Sodoma e grande cidade
Mateus 11:20 Jesus diz que Sodoma será menos castigada que Cafarnaum pelos milagres feitos
Isaias 1:25 Deus chama Jerusalém de prostituta e que se voltará contra ela no versículo 13 Ele diz não tragam suas ofertas contaminadas (adoração promiscua)
Oseias 4:11 chama Israel de prostituta e que um espírito de prostituição os enganou. Repete isso em Oseias 5:4
- Mãe das Meretrizes: A revelação de João aqui é profunda, pois ela não é apenas uma prostituta, mas a origem de todas as prostituições religiosas da terra. Deus sempre denominou através dos profetas a prostituição como a infidelidade da ALIANÇA com Ele. Ninguém pode cometer adultério com Deus se não estiver em aliança com Ele, isso serve para Israel e para a igreja.
Uma interpretação mais provável é que “Babilônia, a grande” é realmente um codinome para Jerusalém. Isso implicaria que o Anticristo (a Besta) e os dez reis terão um relacionamento muito próximo com a Jerusalém literal (apóstata) durante a Tribulação. Já que Apocalipse 17:18 diz “a mulher que viste é a grande cidade, que reina sobre os reis da terra”, isso pode implicar que Jerusalém servirá como capital para o Anticristo durante a Tribulação. Porém sua intuição é a destruição dela.
Digno de nota: em Isa 14:13 entende-se como um profecia sobre Satanás onde descreve que seu desejo é assentar no monte da congregação, ou seja o Monte Sião em Jerusalém.
Argumentos em Apoio à Futura Interpretação da Jerusalém Apóstata.
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As 7 Cabeças: Já exploramos isso em passagens anteriores, mas esses são os impérios humanos que tiveram domínio sobre Israel. Os 5 primeiros que já caíram foram o Egito, Assíria, Babilônia, Pérsia e a Grécia. O que João diz que existe era Roma que dominava Israel. O 7 que ele diz que ainda não chegou e durará pouco é a liga dos 10 países ou 10 chifres; e seu rei o Anticristo (Oitavo rei). O fato de a mulher (Babilônia) se assentar sobre esses impérios pode estar relacionado a promiscuidade religiosa de honrar a Deus por um lado mas também aceitar as culturas dominantes do mundo. A ordem de Deus tanto para ISRAEL como para a IGREJA é de não se contaminar com as coisas do mundo.
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Os 10 Chifres e a Besta: Os 10 chifres representam os mesmos do livro de Daniel e são 10 nações que se unem com um propósito: destruir a Babilônia. Eles dão o seu poder ou aceitam o domínio do Anticristo pois ele tem o mesmo objetivo, destruir Israel. Daniel 11:28 diz que o Anticristo odiará a aliança de Deus, Israel. O Anticristo entrará em Jerusalém com seus exércitos no meio dos 7 anos. (Zac 14:2, Dan 8:11)
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Domina sobre os Reis da Terra: Jerusalém tem sido motivo de conflitos ao longo de vários milênios, pelos hebreus e vários povos, cristãos e otomanos, e nos últimos dois séculos tem sido o centro de controvérsias mundiais. Na perspectiva celestial Jerusalém é a glória das nações (Salmos 48:2). Da mesma maneira que João a chamou de a grande cidade em Apoc. 11:8, mesmo que naquele momento Roma era a cidade imperial e dominava Israel, ele estava falando em um contexto teológico, Jerusalém é a capital espiritual do mundo. Em Ezequiel 5:5 Deus chama Jerusalém de centro do mundo.
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A Grande Cidade: A cidade é frequentemente chamada de “a grande cidade” em Apoc. 17:18 e 18:10. Em Apocalipse 11:8, as mesmas palavras são usadas para descrever Jerusalém: “a grande cidade… onde também seu Senhor foi crucificado.” No entanto, não é apenas a repetição das palavras que argumenta a favor de sua equação. Na passagem anterior, a Besta (o Anticristo) está obviamente envolvida em Jerusalém (veja 11:7), assim como a Besta em Ap 17:3 está claramente associada à cidade prostituta. Isso argumenta a favor do rótulo “a grande cidade” sendo usado em ambos os contextos do mesmo local, ou seja, Jerusalém.
Em um contexto muito importante o texto diz que tanto os 10 Chifres e a Besta se alinham por causa de um mesmo pensamento ou propósito e no versículo 16 dizem que por causa do seu ódio irão destruir e devastar a cidade “Babilônia”. Isso pode estar alinhado com Daniel 9:26 e Zac 14:1 que falam da invasão e destruição da cidade de Jerusalém no fim dos 7 anos.
Lemos em Apoc. 16:19: “A grande cidade foi fendida em três partes, e as cidades das nações caíram. Então, Deus lembrou-se da grande Babilônia, para lhe dar o cálice do vinho da sua ardente ira.” O fato de que “a grande cidade” ser distinta de “as cidades das nações” faz todo o sentido, se “a grande cidade” é Jerusalém.
Apocalipse 17:5 indica que o nome da cidade, Babilônia, a Grande, é um “mistério”, o que implica que seu nome real é algo diferente. Se assim for, isso estaria de acordo com os nomes não literais dados a Jerusalém em Apocalipse 11:8: “a grande cidade que espiritualmente é chamada Sodoma e Egito, onde também seu Senhor foi crucificado.”
Na acusação de Isaías a Israel, ele escreveu: “Ouvi a palavra do Senhor, vós, governantes de Sodoma, dai ouvidos à instrução do nosso Deus, vós, povo de Gomorra” (Isa 1:10; 3:9; Jr 23:14; Ez 16:44-58). Dado que o princípio de “substituição de nome” já havia sido estabelecido em Ap 11:8, é muito legítimo hermeneuticamente entender que Jerusalém pode ter recebido o pseudônimo de “Babilônia” em Ap 17–18 e que, ao fazê-lo, o Espírito Santo está comparando Jerusalém à cidade tão famosa por idolatria e maldade (ou seja, Babilônia, a cidade que outrora serviu como capital do mundo).
Com todo esse contexto bíblico suportamos a opinião que Jerusalém é essa cidade descrita por João mas seu contexto expande para toda cultura religiosa cristã promiscua, que por um lado digo que amo a Deus, mas tenho meu coração atraído ao poder/riqueza desse mundo negociando com Deus através de ofertas e sacrifícios. Isso está presente dentro de diversas igrejas que usam de estratégias mundanas para crescimento e poder; apesar de usarem o nome de Deus ou seja o relacionamento religioso promiscuo de grande parte de Israel com Deus e prazeres do mundo está muito presente em muitas igrejas que se denominam cristãs.