Apesar do capítulo 12 ter várias imagens simbólicas não seria difícil buscar o entendimento pois João utilizou simbolismo facilmente entendido por cristãos da época pois trazem relatos do antigo testamento. A mulher descrita no versículo 1 claramente se refere a Israel, pois utiliza a mesma figura do sonho de José em Genesis 37:9 e o dragão é a figura usada para satanás (Isa 27:1, Apoc 12:9).
Devemos evitar qualquer tentativa de forçar uma interpretação nesse capítulo com a Igreja. Esta apenas aparece no versículo 17. Podemos ver uma clara diferença da perseguição inicial a mulher (Israel) e depois os santos que têm o testemunho de Cristo, a igreja.
Aqui novamente nós temos um interlúdio de tempo nas visões de João. Ele começa esse capítulo olhando o período da primeira vinda de Cristo, seu nascimento e ascensão aos céus, para depois se enfocar nos últimos 3,5 anos que antecederão o retorno de Jesus ou seja a estação da grande tribulação sobre a terra e a terrível perseguição que passará os judeus e a igreja.
O contexto da visão traz dois lugares distintos: o céu onde Satanás está inicialmente localizado e depois quando ele e seus anjos malignos são atirados para a terra, e isso acontece conforme versículo 6 e 15 no meio dos últimos 7 anos.
Vamos definir algumas das imagens que João usa nessa visão para ajudar o entendimento:
- Mulher: Israel ou povo judeu (Gen. 37:9)
- Dragão: Satanás (Isa 27:1, Ap. 12:9)
- Sete cabeças: Os setes impérios humanos que Satanás usou para oprimir Israel (Egito, Assíria, Babilônia, Pérsia, Grécia, Roma e aliança do Anticristo) Ap. 17:9-10
- Dez chifres: Países que farão parte da aliança do Anticristo (Dan 7:7)
- Estrelas do Céu: Anjos malignos que seguem Satanás.
- Filho Homem: Jesus (o filho arrebatado não pode ser a igreja, o versículo 5 enfatiza que esse filho homem irá governar as nações com cetro de ferro conforme profetizado no Salmo 110:2)
- 1260 dias: O mesmo que tempo, tempos e metade de um tempo ou seja 3,5 anos que é o período que irá durar a grande tribulação (Ap. 8:13, Dan 7:25)
Assim, temos a descrição inicial da perseguição histórica do dragão, Satanás, contra o povo de Israel para fazer a palavra da promessa de Deus não se cumprir. Isto é, o que havia sido profetizado em Genesis 3:15. Até o versículo 5 João está retratando as profecias já cumpridas da escolha do povo de Israel e a vinda do Messias nascido de uma mulher conforme descrito em Isa 7:14 e 9:6. Do versículo 5 ao 6 teremos um intervalo de tempo, semelhante a profecia e Daniel 9 nas 70 semanas (olhe o estudo de Daniel 9).
A fuga da mulher (Israel) ao deserto será o período pós invasão de Jerusalém pelo Anticristo. Isso está alinhado com as profecias de Zac 14:2, Zac 13:9 e principalmente a de Oséias 2:14 sobre o povo ser refugiado novamente antes do retorno de Jesus. Ezequiel 38:8 e Isa 63:18 que afirmam um breve retorno de Israel a terra (1948) e em seguida a invasão do Anticristo.
O texto continua com a visão de uma guerra nos céus, onde Satanás e seus demônios são atirados a terra por Miguel. O que isso quer dizer que eles não têm mais acesso aos céus possivelmente Deus não aceita mais suas acusações contra seu povo (Ap 20:11, Jó 1:6, Dan 2:35). Esse momento histórico coincide com:
- Com invasão de Jerusalém pelo Anticristo (Dan 9:26, Ap 11:2)
- Abominação desoladora (Mat 24:15, Dan 9:27, 2 Tes 2:4)
- Interrupção dos serviços do Templo (Dan 8:11, 9:27, Isa 63:18)
- Possível morte e ressureição do Anticristo (Ap 13:3, 13:12, 13:14)
- Início do ministério do Falso Profeta (Ap 13:11)
- Revelação do mistério da iniquidade (2 Tes 2:3)
- Início da perseguição e martírio da igreja (Ap 12:17, Dan 7:25, Dan 11:33)
- Anticristo se exalta como deus (Ap 13:8, 2 Tes 2:4)
- Início do ministério das 2 testemunhas (Ap 11:1, Zac 4:3)
Aqui se inícia os últimos 3,5 anos que antecedem o Dia do Senhor, a segunda vinda de Jesus e o estabelecimento do seu reino eterno ou período milenar. Estudaremos o milênio mais para frente no capítulo 20.
Ênfase importante ao versículo 11, “eles venceram por causa da palavra do testemunho que deram”. O grego para testemunho é “martyrias” que significa testemunhar com a própria vida. Mesma origem para a palavra mártir. Assim, o contexto que os cristãos vencem pelo sangue de Jesus, mas também porque perseveraram em seu testemunho mesmo sendo martirizados. Mensagem a igreja de Esmirna, seja fiel até a morte.
A partir do versículo 12, João começa dar mais detalhes daquilo que ele já havia explicado nos versículos anteriores, enfocando que Satanás e seus demônios sabem que tem apenas 3,5 anos por isso tentam exterminar todo Israel (judeus). Porém Deus da proteção a 1/3 dos sobreviventes (Zac 13:9) a escaparem ao deserto. Vários profetas anunciam Israel em campos de refugiados no Egito, Assíria (Síria, Iraque), Bozra (sul da Jordânia). Isso também foi anunciado por Jesus em Mateus 24:16.
Deus sustentará esse povo de maneira sobrenatural como foi com o “maná” e as codornizes no tempo do deserto (as duas testemunhas). A igreja fisicamente será também instrumento de Deus na terra orando e servindo Israel (Mateus 24:37-40). Talvez essa seja a razão de no versículo 17 Satanás vir atras da igreja (águas podem representar exércitos de guerra) pois se posicionaram em favor a ajudar os sobreviventes de Israel. Cristãos que durante a segunda guerra ajudaram a esconder judeus foram martirizados pelos nazistas. Maiores detalhes sobre isso podem ser encontrados no livro Refúgio Secreto de Corrie Ten Boom.